Sabemos que o
rompimento saudável da simbiose – mãe x criança – (até o 10º dia de
vida) é a chave para a estruturação da identidade que leva o sujeito
à sua totalidade. Isto ocorrendo, ele deixa de ser mais uma parte da
coletividade, permitindo que aflore sua individualidade e
transforma-se numa unidade.
Manter-se
neste estágio é muito difícil, pois o indivíduo ainda se encontra
muito próximo das mutações rápidas e envolventes do coletivo – mundo
externo –, podendo ser atraído por elas e perder-se de si mesmo.
Caso não perca o controle da sua individualização, ele estará pronto
a iniciar sua jornada em busca do seu centro (mundo interno – self),
através das suas relações como indivíduo, desenvolvendo sua
personalidade como um todo e aprimorando seu ego em todos os níveis,
encontrando, dessa forma, o significado e atingindo sua
individuação.
Aqui também
ele precisa tomar cuidados para não perder o controle do equilíbrio
entre os dois mundos (interno e externo). Ao envolver-se com o
centro (mundo interno) e esquecer-se da periferia (mundo externo), o
indivíduo ficará estático e inadaptado com o todo. Portanto, o
processo de individuação só ocorre em paralelo ao de
individualização num interligar harmonioso e em equilíbrio, gerando,
então, uma organização perfeita entre os dois mundos:
Mundo Externo
x Mundo Interno
Periferia x Centro
Amplo x Restrito
Transitoriedade x Transcendência
Temporal x Eterno
Ocidental x Oriental
Masculino x Feminino
Anima x Animus
Referindo-se à
necessidade de equilíbrio, agora, com relação aos hemisférios
cerebrais, Roberto Crema diz:
Importantes
avanços da neurociência resultaram no desenvolvimento de um modelo
holográfico do funcionamento cerebral, da memória e da consciência.
Por outro lado, pesquisas e observações clínicas acerca da
lateralização de funções no córtex cerebral evidenciam que a função
analítica do raciocínio lógico, da previsibilidade e da angústia
humana, tem no hemisfério esquerdo o seu substrato neurofisiológico,
enquanto a sintética fundamenta-se no hemisfério direito, da
intuição, a captação gestáltica de padrões e de melodias. Entre
eles, e conectando os dois hemisférios, há o corpo caloso,
um espesso feixe de nervos que agrega milhões de fibras nervosas
que interligam os dois centros cerebrais. Gosto de pensar que
Ocidente e Oriente não são meramente regiões geográficas; são
estados de consciência complementares. O hemisfério cerebral
esquerdo representa nosso “Ocidente interior” e o direito, nosso
“Oriente interior.” (Roberto Crema)
Ocorrendo a
complementação, a vinculação destes dois mundos, a superação da
polaridade se fará dinamicamente. Citando o astrofísico e biólogo
Carl Sagan, ele complementa: “Do corpo caloso depende o futuro da
humanidade.”
Esta é a
trajetória que o professor, imbuído da sua persona profissional,
deve percorrer para que, ao ir-se despindo de sua máscara durante o
seu árduo processo de individuação, se transforme no Educador.
Cada um
aperta, ad infinitum, o parafuso que lhe cabe. A genial sátira de
Chaplin, Tempos Modernos, muito bem o demonstra. O filósofo pensa, o
matemático calcula, o seminarista reza, o padeiro faz pão, o poeta
sente, o marceneiro martela, o místico delira, o cientista comprova,
o professor ensina... e tantos parafusos mais. Esse retalhamento de
funções conforma a ratoeira da dependência generalizada. Todos
dependemos de todos. Alienados da consciência de inteireza, sofremos
de um tipo de invalidez psíquica e de certa imbecilidade funcional.
Enfim, de infelicidade crônica, pois a autêntica felicidade é uma
capacidade do indivíduo ser inteiro e verdadeiro. Ser feliz é ser o
que é. Nem mais nem menos.
(Roberto
Crema)
Para se dispor
a momentos de sacrifício com o sentido de doação, de missão a
cumprir, é necessária a luz do amor. Somente num ato de amor a
transformação se faz, e o educador surge por inteiro,
conseqüentemente, verdadeiro.
Um bom ano
letivo para todos vocês! Feliz 2008!
Lêda Maya
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