Semana passada, conheci dois homens. Dois homens que me fizeram pensar em como nos posicionamos em relação ao outro nesta vida. Um deles foi meu companheiro de viagem. O outro é o Júlio. Conheci-o através de uma entrevista dada por ele a uma revista semanal.

O primeiro vive fechado no seu mundo familiar e no seu círculo de amizade. É rico. Segundo me disse é industrial. Homem de posses. Teve lancha, frequenta os melhores clubes etc. e tal.

Contou-me como projetou e impôs o futuro de seus rebentos, visualizando o sucesso financeiro, não permitindo que sonhos de outros caminhos, que não os seus planejados, pudessem ser almejados. Planejou meticulosa e estrategicamente os passos para que seu caçula, quando adolescente, ao ser recebido por uma família no intercâmbio, não viesse a perder as regalias materiais e sociais que recebia dele em sua casa, no clube e nos círculos de amizade da família.

Este pobre homem rico não enxergou a grande oportunidade que este jovem adolescente poderia ter vivido se tivesse ido morar exatamente numa realidade oposta à sua. Não enxergou que a riqueza múltipla de experiências divergentes é que nos leva ao crescimento humano, atingindo o olhar para o outro e iniciando a relação da alteridade. Não enxergou que viajar é bom exatamente na oportunidade de se viver o diferente.

Este homem não pensou na felicidade individual de cada um de seus filhos. Nas diferenças de personalidades. Criou uma fôrma única de uma profissão que lhes trariam sucesso financeiro, colocou os três dentro e ponto final. Seu amor palpado em valores econômicos tirou de seus três filhos a oportunidade de escolha. Disse-me que o caçula desejou alçar seu voo independente, mas, ele, o pai, não o permitiu cortando suas asinhas e trazendo-o de volta para o projeto de vida por ele, pai, traçado no falso aconchego familiar. Não sei se os filhos desse homem são felizes, sei que são homens de sucesso financeiro.

O outro homem que conheci, abre-se como uma flor, indo em busca do sujeito desconhecido, com a finalidade de proporcionar-lhe o que de melhor ele pode oferecer.

Foi pobre. Hoje é um profissional bem sucedido e reconhecido na área por ele escolhida.

Contou-me (e a todos que leram) que foi através da vó, quando pequeno, que tomou conhecimento e gosto pela culinária. Fruto de um projeto social profissionalizou-se e hoje se enche de prazer em “descobrir novos Júlios com talentos e paladares refinados” oferecendo a eles (e elas) a oportunidade de se descobrirem na profissão e realizarem seus sonhos, fazendo o que mais desejam.

Semana passada conheci dois homens. Dois homens tão distintos no enxergar, respeitar e relacionar-se com o outro.

Teresópolis, 28 de outubro de 2014.

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