Lição de Casa

Desde o jardim de infância, o foco na aprendizagem toma uma dimensão preocupante para os mestres diante do objetivo claro de levar o aprendiz até o conhecimento. Tudo é planejado. Livros didáticos prontos como escudos para a batalha que os mestres enfrentarão na chegada dos pequenos com dúvidas, anseios, expectativas e curiosidades latentes.

Mas respostas estabelecidas e totalmente fechadas para questionamentos? Penso que não poderiam ser denominadas respostas, já que estas nunca chegam antes das perguntas.

Assim, o pequeno aprendiz da vida cresce e se torna um aprendiz de regras, conceitos e normas. Nesse emaranhado, perde a espontaneidade, a curiosidade, a alegria de saber que está diante do desconhecido, já que não mais enxerga o diferente, o novo. Passa a viver uma relação simbiótica com o domínio de uma área, e se desliga dos outros assuntos que, com certeza, coloririam sua vida.

Aprende e esquece-se de apreender. Repete situações quase que no automático, muitas vezes o faz exatamente assim. Deixa de tirar do inusitado uma lição, esquece-se de absorver reais valores da experiência e de incorporá-los na alma, tornando-os parte de si. Vira quase um robô.

Nós, crianças mutiladas e transformadas em adultos encouraçados, precisamos promover o renascimento da nossa espontaneidade diante do novo, do desconhecido, do diferente. Devemos sair da nossa ostra, do nosso conforto, do nosso conhecido, do nosso controlado e nos permitir deparar com essa complexidade que a vida não esconde de nós – pelo contrário, nos oferece com prazer para usufruirmos a qualquer hora, com toda a permissão dos deuses. 

Mês passado fui convidada para um evento nunca imaginável por mim, até por ser bem longe da realidade na qual cresci. Chegando perto dos meus setenta anos, tive a alegria de fazer a colheita das uvas. Vivi a vindima! Vivi com aqueles nascidos no campo e aprendi sobre aquela cultura. Deliciei-me!

Que a vida continue nos oferecendo o novo, que nós nunca deixemos de fazer a lição de casa. Que possamos nos surpreender e que sejamos gratos!